Vasco Coimbra

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Facies Mortis

Será que é possível determinar a causa da morte de um indivíduo a partir da expressão da face do cadáver? Foi esta a hipótese lançada no início do século XX por João Azevedo Neves e que cujos resultados puderam ser vistos na Reitoria da Universidade Porto.

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Facies Mortis – Histórias de vida e rostos da morte

Será que é possível determinar a causa da morte de um indivíduo a partir da expressão da face do cadáver? Foi esta a hipótese lançada no início do século XX por João Azevedo Neves e que cujos resultados puderam ser vistos na Reitoria da Universidade Porto.

Entre 1913 e 1945, João Azevedo Neves, o primeiro director do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, recolheu as últimas expressões faciais de vítimas de enforcamento, recorrendo a máscaras de gesso. Estas máscaras, com explica Carlos Branco, curador da exposição, são feitas a partir do “denominado gesso de Paris, uma variedade mais barata e prosaica de gesso, não tão elaborada quimicamente como as fórmulas actuais”. Ao todo, a coleção é composta por quase 300 exemplares, dos quais 23 estão expostos.

Partilhando a curadoria com João Pinheiro, vice-presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, Carlos Branco afirma que esta exposição pretende “dar a conhecer um dos exemplares mais interessantes da museologia médica portuguesa, que é tanto mais relevante sabendo que não existe, em Portugal, nenhum museu de medicina e que, neste contexto, as exposições temporárias sao sobretudo de arte”. Esta coleção é única no mundo por várias características. Em primeiro lugar, está exaustivamente documentada”, permitindo conhecer muito melhor a história de cada peça e entender o conjunto. Além disso, o elevado número de exemplares e o seu muito bom estado de conservação criam condições únicas que não se encontram em mais nenhum país. Existem algumas coleções semelhantes mas nenhuma dedicada exclusivamente a vítimas de enforcamentos.

Ao longo das 6 áreas que compõem a exposição,  é possível observar as máscaras, conhecer os processos científicos e legais do estudo e ainda conhecer algumas das histórias de vida que acompanham os rostos da morte. Algumas das peças incluem as cordas ou laços utilizados, cartas e até pedaços de pele onde é possível ver o efeito da pressão da corda.

Apesar de toda a documentação, Azevedo Neves não conseguiu comprovar a questão levantada. Mesmo com a criação de uma escala chamada “expressómetro”, onde definiu cinco expressões faciais (sorrisoinexpressividadetristeza, dor e terror), as expressões faciais são algo complexo e podem ter várias interpretações por cada pessoa, cada um interpreta as emoções dos outros de maneira diferente. Contudo, apesar de nesta colecção encontrarmos vítimas de uma morte violenta, a grande maioria apresenta uma face inexpressiva, serena.

Inserida na comemoração dos 15 anos do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciencias Forenses, esta exposição pode-se interpretar, segundo Carlos Branco, como uma “interface entre uma coleção científica (constituída para demonstrar uma teoria científica) e uma coleção de arte (pelas características dos objectos)”. A exposição enaltece a “a medicina legal que, na última centúria, está profundamente ligada com os eventos mais relevantes que aconteceram na história de Portugal”. Esta coleção tem um cariz ainda mais especial por nunca ter sido aberta ao público geral, tendo apenas havido, durante um período de tempo, “uma sala de exposições dentro do Instituo, mas apenas com visitas pontuais e electivas”, como nos conta Carlos Branco.

A exposição encontra-se patente no Porto até dia 27 de janeiro. Na Primavera, rumará a Lisboa. Depois disso, voltará ao Instituto onde voltará a ficar indisponível à visita, tratando-se assim de uma oportunidade única de ver esta também única coleção.

 

Reportagem elaborada para o website Linha das Artes e publicada a 23 de janeiro de 2017

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